sexta-feira, 7 de março de 2014

Caronte

   "E então olhei e vi que as almas formavam uma grande multidão, correndo atrás de uma bandeira que nunca parava. Estavam todas nuas, expostas a picadas de enxames de vespas que as feriam em todo o corpo. O sangue escorria, junto com as lágrimas até os pés, onde vermes doentes ainda os roíam.
    Quando olhei além desta turba, vi uma outra grande multidão que esperava às margens de um rio.
    __ Quem são aqueles? - Perguntei ao mestre.
    __ Tu saberás no seu devido tempo, quando tivermos chegado à orla triste do Arqueronte. - Respondeu, secamente.
    Temendo ter feito perguntas demais, fiquei calado até chegarmos às margens daquele rio de águas pantanosas e cinzentas.
    Chegava um barco dirigido por um velho pálido, branco e de pêlos antigos. Ele gritava:
    __ Almas ruins, vim vos buscar para o castigo eterno! Abandonai toda esperança de ver o céu outra vez, pois vou levár-vos às trevas eternas, ao fogo e ao gelo! 

Dante Alighieri em, A Divina Comédia, Canto III


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